Como, clube e atletas, podem se prevenir da crise em redes sociais.
Esta semana, em Curitiba, aconteceu um fato no futebol que chamou a atenção de todos: o jogador de futebol do Paraná Clube Andrey, de 18 anos, foi ameaçado de morte por ter tido fotos vazadas de sua infância, em que estava com a camisa do time rival, o Athlético Paranaense.
Infelizmente esse fato não é único. Quantos outros casos de atletas ou profissionais ameaçados, atacados na internet, por ter algo do seu passado revelado, principalmente no que diz respeito a aparecer com produtos de outros times? E não só isso, por descobrirem que — em algum momento da vida — postavam ofensas, críticas ao clube, instituição que hoje trabalham?Não é algo tão fora do normal esta notícia. Porém, claro, é um absurdo e nada justifica atitudes assim por parte da torcida, seja quem for!
Mas, com a rapidez da internet, os torcedores acabam se deixando levar por um momento de paixão, o que desencadeia, então, uma série de atitudes que começa nas redes sociais, geralmente, e acaba terminando na parte pessoal, offline, física até. E não só com o atleta, mas com sua família, amigos, e que ainda pode atingir até o clube e seus colegas de equipe, direção, patrocinadores, etc. E claro, esporte é paixão, ainda que envolva também o lado intempestivo, irresponsável.
Mas como, então, tomar providências quanto a isso? Como se proteger desse mundo virtual? Quais cuidados o clube precisa ter com relação ao atleta mais jovem, que muitas vezes não teve preparo para os cuidados com a marca pessoal, assessoria, etc. Não só jovens, pois há muitos casos de jogadores já profissionais e que passam por esses momentos difíceis na carreira. Como o próprio atleta pode agir referente a tudo isso?
Deixando de lado a questão torcedor, que não cabe neste momento abortar, vou citar algumas atitudes que podem colaborar para uma gestão de crise mais ativa, e até, prevenir.
1 O atleta precisa ter consciência de que redes sociais não é mais mera brincadeira ou terra de ninguém, e que o que se fez há 6 anos atrás pode sim estar em algum lugar da internet. Ou seja, a partir do momento que decidiu ser um jogador, e mais ainda, quando se está caminhando num clube já profissional, é preciso instruí-lo a ter um correto posicionamento em suas redes sociais, e principalmente, que ele verifique o pode constar no mundo digital que pode um dia prejudicá-lo.
2. Em se tratando de atletas de base, principalmente, o clube deverá trabalhar a questão “redes sociais e liberdade de expressão”. Seja por comunicação interna do clube, por palestras, treinamentos, ou até mesmo por cláusulas em contratos. Já tivemos muitos exemplos de clubes que quase perderam patrocinadores por alguns fatos que envolveram seus atletas em redes sociais, e não só de base, profissionais também. Mas se até os profissionais têm dificuldade, há que se começar na base, com a prevenção! Quer um exemplo: Kenedy, que era do Fluminense e foi para o Chelsea. Lembram que o Chelsea quase foi impedido de jogar na China, por um story que o jogador fez em seu Instagram, com uma foto de um guarda chinês e palavras de baixo calão? Se não lembram, eu contarei em outro texto. Mas uma atitude de um jogador PROFISSIONAL quase pôs uma pré temporada a perder.
3. Conexão assistente social, psicologia e assessoria de imprensa/marketing: o clube precisa estabelecer linhas de pensamento entre estes três setores, mais no que diz respeito à categoria de base, para este trabalho de mídias sociais, prevenção e instrução de atletas. Por quê? Porque nem sempre envolve atitudes só dos atletas, mas sim de familiares, amigos, namoradas, etc. Todos que estão envolvidos na base social do atleta precisam fazer parte destes cuidados, atenção. E mais: há muitas postagens que podem identificar situações internas, de grupo, que podem ser avaliadas para o bem de equipe, etc. (isso é pra outro texto também)
4. Gestão de crise: em caso da situação do jogador Andrey, do Paraná Clube, como agir? Os clubes devem ter algo já previamente alinhado com a assessoria e até com os jogadores, para um possível posicionamento do clube. Montar um documento com possíveis situações e como reagir, quem irá falar, etc. Isso ajuda e favorece até mesmo na prevenção de atitudes de atletas, se for colocado antes de uma contratação, por exemplo.
5. E não menos importante: instruir os atletas que, a partir do momento que se tornou um, sua vida não terá mais a “liberdade de expressão” 100%, infelizmente. Não que ele não possa se expressar, mas que ele tenha que arcar com todas as consequências, seja na vida pessoal ou profissional. Ele agora é uma “marca”, e representa muito mais do que só o seu nome e sua posição em campo. Se tiver certo zelo, poderá inclusive, ter bons frutos com as redes sociais. E por último, que ele entenda que sua carreira muito dificilmente irá passar somente por um clube! Por isso, cuidado! Cuidado com o que fala de outros clubes, outros profissionais, etc. Nunca se sabe o dia de amanhã, e nem quem deu o famoso print.
Nossa Débora, mas é algo muito complexo, não é muito mimimi? Não! É algo que não estamos ainda sabendo lidar, ou que estamos deixando para resolver somente depois que acontece, e às vezes já é tarde demais. Pode acabar com a carreira de um atleta, pode denegrir a imagem de um clube, de uma marca que esteja relacionada. E pior, pode afetar a vida pessoal daqueles envolvidos.
O mundo digital entrou muito rápido nas nossas vidas e por isso, ainda há muita discussão a respeito do que fazer, como fazer, por que fazer. Enquanto não temos muitos caminhos “legais” neste mundo, temos que buscar ao máximo a prevenção e entender que não é mais só brincadeira.