A Copa do Mun­do na Rús­sia trou­xe mui­tas ques­tões soci­o­cul­tu­rais à tona e den­tre elas o machis­mo, racis­mo, imi­gra­ção, e prin­ci­pal­men­te: a mulher no está­dio. Tive­mos a ima­gem de uma pre­si­den­te tor­ce­do­ra, a deci­são paté­ti­ca da pró­pria FIFA em “não mos­trar ima­gens” de mulhe­res boni­tas no está­dio. E a ain­da, a luta das mulhe­res Ira­ni­a­nas que ten­ta­ram cha­mar a aten­ção do mun­do para sua tris­te situ­a­ção no país.

Os jogos do Irã mar­ca­ram não só pela for­ma que seus joga­do­res se orga­ni­za­vam em cam­po e sua rela­ti­va for­ça táti­ca, mas prin­ci­pal­men­te pelos momen­tos de vibra­ção e feli­ci­da­de que algu­mas mulhe­res ira­ni­a­nas viven­ci­a­ram nas arqui­ban­ca­das. O sor­ri­so, as cores da ban­dei­ra pin­ta­das nos seus ros­tos, a ale­gria qua­se que de uma cri­an­ça que ganhou um pre­sen­te — sim, era um pre­sen­te poder final­men­te assis­tir um jogo de fute­bol mas­cu­li­no nas arqui­ban­ca­das!

A luta das ira­ni­a­nas não é de ago­ra. São mais de 30 anos de proi­bi­ção! Trin­ta anos sem poder freqüen­tar está­di­os e giná­si­os espor­ti­vos, prin­ci­pal­men­te de fazer par­te da tor­ci­da em jogos de fute­bol mas­cu­li­no. E como elas gos­tam de fute­bol! Espor­te que é inclu­si­ve o mais dis­pu­ta­do e “con­su­mi­do” no país. Como se calar fren­te a esta dura impo­si­ção? Elas sem­pre ten­ta­ram bus­car apoio de algu­ma for­ma, ou sem­pre ten­ta­ram estar o mais pró­xi­mas pos­sí­veis do fute­bol, ain­da que cus­tas­se sua liber­da­de. Liber­da­de? Qual? Se já não há para aque­las que amam fute­bol!

Um dos gran­des exem­plos des­sa luta foi em 1997, quan­do, após a con­fir­ma­ção de clas­si­fi­ca­ção do Irã à Copa de 98, mais de 5 mil mulhe­res inva­di­ram o cam­po do está­dio Aza­di  — que jus­ta­men­te sig­ni­fi­ca Liber­da­de — para recep­ci­o­nar, jun­to de seu povo, a sele­ção naci­o­nal que vol­ta­va da Fran­ça. Só aqui já temos 21 anos!

Outro even­to mais recen­te foi o caso da pri­são de um gru­po de mulhe­res que – dis­far­ça­das de homem – ten­ta­ram entrar no mes­mo está­dio (Aza­di), duran­te uma visi­ta de Gian­ni Infan­ti­no, o pre­si­den­te da FIFA. Elas que­ri­am ser ouvi­das, que­ri­am a aten­ção dele para poder der­ru­bar esta dura lei de segre­ga­ção. Mas ain­da não aconteceu…Pelo menos não no Irã. Ará­bia Sau­di­ta, que tam­bém tinha lei pare­ci­da, já per­mi­tiu a pre­sen­ça das mulhe­res nas arqui­ban­ca­das, e esse pode ser um pri­mei­ro pas­so para a for­ça des­sa luta ganhar pro­por­ções mai­o­res e final­men­te che­gar ao fim.

A Copa da Rús­sia de 2018 é mais meio de cha­mar a aten­ção não só do mun­do, mas prin­ci­pal­men­te da FIFA e outros gover­nan­tes que pos­sam de algu­ma for­ma apoi­ar e dar voz a estas mulhe­res. E quan­do você per­ce­be que são mais de 50 mil Ira­ni­a­nas, a luta muda de con­tex­to. Não são ape­nas algu­mas vozes, são mui­tas! 50 mil assi­na­ram um docu­men­to de pedi­do à FIFA  para que ela pres­si­o­ne o gover­no do Irã a mudar esta tris­te impo­si­ção. Com cer­te­za são mui­to mais que isso! É qua­se que um pedi­do de socor­ro!

Enquan­to isso, no Irã, o gover­no tei­ma em afir­mar que essa medi­da “é pro­te­ção para as mulhe­res, já que o ambi­en­te é hos­til e de pala­vras de bai­xo calão”. O que, infe­liz­men­te, aca­ba por se igua­lar ao que a FIFA fez: reti­rar ima­gens das mulhe­res boni­tas que apa­re­ci­am em telão, pois “elas pode­ri­am ser ata­ca­das”. Então, em ambos os casos, fica explí­ci­to que é mais fácil proi­bir as mulhe­res se diver­tir, de ir ao está­dio, de “apa­re­cer”, do que bus­car solu­ções para ame­ni­zar ou aca­bar com esse “ambi­en­te hos­til”? É mais fácil segre­gar que edu­car? Pelo vis­to sim! 

Tal­vez o mun­do pre­ci­se tomar o exem­plo da pre­si­den­te da Croá­cia, que foi a todos os jogos do seu país com a cami­sa de sua sele­ção! Que vibrou em todos os gols, abra­çou todo seus joga­do­res ao final da deci­são e não só os seus, sou­be res­pei­tar e para­be­ni­zar os da Fran­ça tam­bém, abra­çan­do-os e feli­ci­tan­do-os pelo títu­lo.

Com cer­te­za ela é só mais uma das tan­tas mulhe­res que amam fute­bol, sua cul­tu­ra, seu país! Ela é a repre­sen­ta­ção de que nós, mulhe­res, tam­bém pode­mos estar no está­dio, no cam­po, no jor­na­lis­mo, na lide­ran­ça, seja no espor­te, polí­ti­ca, o que for. A mulher pre­ci­sa ter voz e esta foi só mais uma das ban­dei­ras de luta que a Copa aju­dou a tra­zer aos olhos do mun­do, não só pela igual­da­de de gêne­ro, mas prin­ci­pal­men­te da luta pelo RESPEITO à mulher!

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