Até que ponto houve influência na performance do time
Que o Real Madrid foi eliminado da Champions League, pelo Ajax — num placar de 4x1, num jogo que estava com um resultado totalmente favorável ao próprio time Merengue, todos sabem. Além disso, que o time vinha em altos e baixos no Campeonato Espanhol, também. Mas o que mais se comenta a respeito disso tudo é: efeito “dependência” Cristiano Ronaldo.
Para abordar esse assunto um pouco mais complexo, que é o extra campo e que pode influenciar no marketing, na gestão do clube, de atletas que jogam no Real Madrid, fomos conversar com Lisandra Soldati, Psicóloga, especialista em esquemas, transtornos de controle de impulsos e certificada em programas de Mindfulness e Compaixão, baseada em mindfulness, e ainda, certificada em Psicologia de Alta Performance com foco em jogadores de Futebol.
Confira abaixo a entrevista:
Real Madrid fora da Champions League. Quem diria!? E não vem tendo muito bom desempenho em outras competições também. Tem vivido altos e baixos, aliás, mais baixos que altos, e tudo depois que o Cristiano Ronaldo saiu, que é o que aparenta. Você acha que isso pode ter alguma ligação?
Sem duvida isso pode ter tido alguma influência sim. CR7 ficou 9 anos no clube e sempre exerceu uma liderança positiva na equipe, no clube, tanto pelo exemplo e determinação como atleta, como por ter se tornado um ídolo para torcida. Além de toda estabilidade dele, postura ética no clube, a determinação como atleta, sua idade atual.
Na sua visão, você acha que além da questão de ser um grande jogador, um dos melhores do mundo, ele poderia ter alguma influência na equipe, até pelo lado psicológico, de liderança? Isso pode realmente influenciar no vestiário?
Com certeza! os aspectos psicológicos dele, além da maturidade e tempo do clube, trazem um grande diferencial como jogador e como colega. Um líder não se constitui do dia para noite e nem se impõe. É no dia a dia, na consistência do que faz, na intensidade e amor ao que faz, na atenção plena aos detalhes, nas coisas chatas, nos momentos bons e nos ruins … se tornou um líder pelo acúmulo de pequenas ações que continuamente realizava em seu comprometimento com o seu trabalho, que foram inspirando e gerando confiança. O amor que ele tinha pelo clube e pelo futebol !
Você acha que há como retomar o grupo, encontrar uma identidade, principalmente, baseado na questão de humanidade, compaixão, grupo, liderança?
É toda uma readaptação, como uma família que teve a saída de um elemento, por exemplo, a separação de um casal que deixa filhos. Então, há uma organização que precisa ser retomada, pela saída desse elemento, e ainda uma nova adaptação pela possível entrada de novos elementos, que não vão conseguir substituir este elemento, ou no mínimo, levam um tempo para isso. O Real Madrid, a meu ver, ficou sem esse líder , perdeu esse elemento, e isso abalou a estrutura da equipe e acabou atingindo inclusive a performance de atletas. Existem vantagens positivas quando um clube se organiza em prol de uma liderança, mas há também as desvantagens, porque na verdade a grande liderança é importante, mas ela também precisa estar distribuída na força do grupo, e às vezes isso não é possível quando existe um jogador de tanto destaque e tantas características positivas como o Cristiano Ronaldo tem. Real Madrid tem duas opções, ou investir num modelo de gestão de time mais coletivo e investir muito num trabalho e práticas para ativar a força do grupo, e de qualquer forma, aguentar esperar o tempo — que nem sempre o futebol tem — para que o novo líder surja e se construa dentro do próprio grupo. Ou correr esse risco de buscar um jogador com características de liderança positiva e que tenha grande destaque em performance como possibilidade dele assumir essa posição de um novo líder! Nem um dos dois caminhos é fácil!